Compreender as dinâmicas familiares é essencial para cuidar melhor da pessoa idosa
Por Margherita de Cassia Mizan (*)
A velhice é inevitável, caso a vida não seja interrompida antes e, com ela, surgem desafios para a própria pessoa idosa e para a sua rede familiar. Diferente de décadas passadas, quando o cuidado aos mais velhos era assumido quase integralmente pela família, hoje observamos um cenário de menos recursos, menos tempo e menos preparo para lidar com as demandas que os efeitos do envelhecimento impõem.
A família como base da vida
Muito antes de nascer, o ser humano já pertence a um grupo que servirá de base para seu desenvolvimento: a família. É nesse núcleo que ocorrem as primeiras experiências de cuidado, proteção e socialização.
A família acompanha o indivíduo em todas as fases do ciclo vital da infância, adolescência, vida adulta e velhice até o fim da vida. Ela é atravessada por outros grupos sociais, como a escola, a igreja e o trabalho, que moldam regras, valores e comportamentos necessários à vida em sociedade. Esse grupo inicial estabelece, desde cedo, os modos de cuidar de seus membros mais frágeis e entre eles estão as pessoas idosas.
Ao longo da vida, novos núcleos familiares se formam (casamentos, filhos, netos), e cada nova configuração pode representar apoio e conforto ou fonte de tensão e sofrimento. Para o profissional que cuida, compreender essas diferentes configurações e seus efeitos é essencial.
Valores, crenças e dinâmicas
Cada família tem sua própria dinâmica, moldada por valores, crenças, cultura e experiências compartilhadas. Entender essa singularidade ajuda o profissional a interpretar eventos e comportamentos que, muitas vezes, interferem na saúde emocional e física da pessoa idosa.
Conflitos, dificuldades de comunicação e distanciamentos geralmente têm raízes profundas: história de vida, ética, mitos, papéis atribuídos a cada membro e comportamentos repetidos ao longo das gerações. Muitas vezes, o que se manifesta como “pessoal” é, na verdade, fruto de um legado familiar inconsciente.
Assim, a família, junto com a cultura, participa ativamente da construção da identidade e do pertencimento de cada indivíduo. Cultura, nesse contexto, envolve regras, eventos, significados e narrativas que atravessam a vida e moldam a subjetividade de cada um.
Envelhecimento e necessidade de apoio
No processo de envelhecimento, a diminuição das capacidades físicas e o aumento de limitações nas tarefas diárias, mesmo sem a presença de doenças, tornam o apoio familiar indispensável. Esse suporte pode vir de famílias consanguíneas, jurídicas ou escolhidas por afeto.
Em casos de doenças crônicas ou degenerativas, como quadros demenciais, essa necessidade se intensifica. Porém, junto ao cuidado, surgem também emoções complexas: solidão, culpa, medo, raiva e sentimento de fracasso, que podem se manifestar de formas diferentes e influenciar a qualidade do cuidado.
Por que compreender a dinâmica familiar é tão importante?
O profissional que entende essas relações está mais preparado para oferecer cuidado humanizado e eficiente. Ao reconhecer padrões, crenças e afetos que permeiam a vida familiar, é possível intervir de maneira mais assertiva, ajudando tanto a pessoa idosa quanto sua rede de apoio a atravessarem o processo de envelhecimento com mais equilíbrio e menos sofrimento.
Como se preparar
O Portal do Envelhecimento/Espaço Longeviver está ofertando o Curso Dinâmicas Familiares e Envelhecimento,que foi desenvolvido para fornecer ao profissional:
1) Ferramentas teóricas e práticas para compreender as relações familiares que envolvem a pessoa idosa.
2) Estratégias de intervenção que respeitam a história e a cultura familiar.
3) Técnicas para melhorar a comunicação e reduzir conflitos entre familiares e cuidadores.
4) Olhar técnico aliado à sensibilidade humana para lidar com situações de alta complexidade emocional.
Ao final, o participante terá mais clareza para atuar tanto em instituições de longa permanência quanto no atendimento domiciliar, fortalecendo o vínculo com a família e potencializando o resultado do cuidado.
(*) Margherita de Cassia Mizan – Psicóloga, Mestre em Gerontologia pela PUCSP, com Especialização em Teoria Psicanalítica pela PUCSP, Especialização em Terapia Sistêmica Família e Casal UNIFESP – SP, Especialização em Gerontologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Especialização em Psicogerontologia pelo instituto Ger Ações. Titulada Especialista em Gerontologia pela SBGG-SP (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – seção São Paulo) – CEO da empresa Senior Services Gestão e Treinamento no cuidado a idosos – 25 anos de trabalho com a população idosa que apresenta fragilidades. Linkedin: https://www.linkedin.com/in/margheritamizan
